A Prefeitura de Ilhabela, por meio da Secretaria de Educação, encerrou o ciclo de formaturas do Ensino Infantil e Fundamental I (5° ano) e II (9° ano) dos alunos das escolas das Comunidades Tradicionais na última semana (13 e 14/12) nas praias da Serraria (E.M. Jornalista Nivaldo Simões) e Fome (E.M. Vereador José Donizete da Silva) – ao leste do arquipélago – e do Bonete (E.M. Antônio Honório dos Santos e E.E. Antônio Sanchez Gonzáles – Ensino Médio), no extremo sul.
Ao todo, 30 alunos alcançaram essa conquista nas comunidades, e irão iniciar uma nova etapa, sendo 11 da Baía de Castelhanos (que abrange as praias Mansa, Vermelha, Figueira, Saco do Sombrio, Canto do Ribeirão do Gato e Canto da Lagoa), dois da Ilha de Búzios, dois da Ilha de Vitória, um da Praia da Serraria, dois da Praia da Fome e 12 do Bonete.
“Muito feliz por mais esta conquista dos nossos moradores das comunidades tradicionais caiçaras. Nossa gestão está sempre atenta às suas necessidades e atua em diversas frentes para garantir políticas públicas voltadas ao atendimento e garantia dos direitos fundamentais destes moradores”, destacou o prefeito de Ilhabela, Toninho Colucci.
A secretária de Educação, Lídia Sarmento, também comemorou: “Todas as Escolas de Ilhabela, tanto das Comunidades Urbanas como das Comunidades Tradicionais, encerraram o ciclo de formaturas de todos os segmentos (Educação Infantil, Fundamental I e II, EJA). Foi muito prazeroso conseguir fazer com que todos tivessem o mesmo cuidado, a mesma dedicação no encerramento do ano letivo 2023”.
Para a diretora das Comunidades, Shirley Martins, “a formatura é um marco na vida dos estudantes, é um momento único, a conclusão de uma etapa e o início de outra, uma vitória sobre os desafios, principalmente os relacionados à distância do Centro”.
Com exceção de Castelhanos e Bonete, esses locais são acessados somente pelo mar e estão quilômetros distantes de comércios e serviços.
Serraria
Na Serraria, a comunidade se mobilizou para que tudo estivesse perfeito para o único formando, Mateus Silva Santos, 10 anos, que agora vai para o 6° ano. Ele fez questão de que a festa fosse feita em sua escola, junto com sua família e amigos. “É muito bom estudar e morar aqui. Esta é a melhor comunidade de Ilhabela. Já fui em outras, mas aqui é família”, disse o filho do barqueiro Luiz Cláudio dos Santos, que estava muito orgulhoso ao poder ver, pela primeira vez, seu filho se formar. “Da outra vez a formatura foi em Castelhanos e eu não consegui ir”.
A bisavó de Mateus, Tereza Benedita de Jesus, 77 anos, também comemorou. “É muito emocionante ver tudo isso só pra ele, ele merece”, comentou ela, que foi merendeira da escola durante 30 anos, tem 11 filhos, 30 netos e 10 bisnetos.
Fome
Na E.M. Vereador José Donizete da Silva, na Praia da Fome, dois alunos se formaram. Ryan Henrique vai para o 1° ano e Jenifer para o 6° em 2024. A escola tem, ao todo, 9 alunos.
Segundo o professor Adriano Leite da Silva, docente há 30 anos, e morador da comunidade há mais de duas décadas, é um privilégio poder viver nesse paraíso. “Com tanta coisa acontecendo no mundo, crianças morrendo de fome, assassinadas, em ambientes inadequados, temos que agradecer por poder oferecer uma educação de qualidade para nossas crianças. Para a gente que é caiçara, é um orgulho enorme ver uma criança de trás da ilha entrando numa faculdade”, falou.
Bonete
Na Praia do Bonete, 12 alunos se formaram, quatro na Educação Infantil, quatro no 5° ano e outros quatro no Ensino Médio
“Formamos a primeira turma do Ensino Médio da história do Bonete em 2012; esta é a 12ª.”, contou a professora Simoni Lara de Oliveira, que também leciona para o Fundamental II.
Segundo ela, a escola no Bonete tem uma matéria a mais, que chama “Saberes Tradicionais” e tem o objetivo de manter a cultura caiçara viva. Pelo menos uma vez por semana, um mestre da comunidade (remo, canoa, pescaria) dá aulas para os alunos e incentiva-os a deixar o celular e a internet um pouco de lado e olhar além do horizonte.
“Tivemos este ano uma Feira Cultural de Todos os Saberes (científicos, geografia, história, e o conhecimento da comunidade, o etnoconhecimento). Também tivemos uma Oficina de Poesias e criamos um ‘Banco de Rimas’, com 70 palavras usadas pela comunidade que rimam entre si”, contou.
Uma vez por semana os alunos analisam a maré, a espuma do mar, o vento, para aprender a etnometeorologia, previsão do tempo feita pelos povos que dependem da natureza para viver. Isso é essencial para eles. Até por isso, os caiçaras preservam muito mais a natureza do que outros tipos de sociedade.
Ainda de acordo com a professora, muito se comenta erroneamente, que os “boneteiros” não sabem falar direito. “Aqui é falado o português de Portugal, as pessoas têm que saber disso”, explicou Simoni, que fez questão de deixar um recado: “Nunca diga a um aluno de uma comunidade que ele não deve ser pescador igual ao seu pai. É o pescador que garante a alimentação da comunidade, sem eles essa geração não teria chegado até aqui. E de nada adiantaria um diploma nesse paraíso onde o essencial é saber pescar e preservar a natureza”.
Ao todo, são 133 alunos nas escolas de Ensino Infantil e Fundamental das Comunidades Tradicionais de Ilhabela e outras 30 no Ensino Médio.