Mostra ‘Sob Ataque’, em cartaz em Ilhabela a partir de 03/6, retoma a revolução de 1924 na capital do Estado para abordar as bombas reais e simbólicas que contam a história de um dos principais bairros centrais de São Paulo
Exposição, idealizada pelo Coletivo Garapa, fica em cartaz até 19/6 no Centro Cultural da Vila – Museu Waldemar Belisário
No início do século 20 uma bomba explodiu na Rua Helvetia, número 2, no centro da cidade de São Paulo. Ocorria a Revolução Paulista de 1924, também chamada de ‘a revolução que São Paulo esqueceu’: um levante tenentista duramente reprimido pelas tropas fiéis ao governo. Depois de 23 dias de bombardeios que atingiram principalmente a população civil, os jornais comemoravam a vitória da legalidade e o sufoco da revolução. Um século depois, sob a justificativa de manter vigente a mesma legalidade, muitas outras bombas, reais e simbólicas, têm explodido sobre aquele mesmo território, impactando principalmente os mais vulneráveis.
É esse momento histórico – e sua repercussão até os dias atuais – que é retratado, a partir do dia 03/6, no Centro Cultural Waldemar Belisário, em Ilhabela, pela exposição “Sob Ataque”. Na abertura haverá visita guiada com os artistas envolvidos no processo de criação da mostra. Idealizada pelo Coletivo Garapa e realizada com apoio do Proac-SP, essa iniciativa cultural se debruça sobre o território hoje conhecido como Cracolândia, em São Paulo. O projeto mapeia, a partir da fotografia do imóvel da Rua Helvetia, 2, bombardeado durante a Revolução, outras explosões e eventos de violência ocorridos naquele espaço desde então. Para tal, o coletivo, que tem reconhecida produção fotográfica nos campos das artes visuais e do documentarismo, emprega um misto de técnicas e abordagens, utilizando desde a coleta de material imagético histórico até a criação de imagens fotográficas sobre o território em foco.
Em sua concepção, a mostra reúne uma iconografia vinda de diferentes acervos documentais, como os do Instituto Moreira Salles, da Fundação Energia e Saneamento e da Casa da Imagem, além de registros fotojornalísticos contemporâneos. Entre as imagens de arquivo, duas se destacam de modo especial: são reproduções de um postal de Gustavo Prugner, de 1924, e do panorama de Valério Vieira, de 1922, com 5 m de comprimento. Além destas imagens, fazem parte da exposição um conjunto de fotografias criadas pelo Coletivo Garapa a partir da encenação de explosões na região, registros históricos sem autoria declarada e imagens de fotojornalistas contemporâneos. No total, a exposição é composta por 24 imagens.
Ao revirar o passado, “Sob Ataque” traz para o presente as tensões históricas que se acumulam e transformam a paisagem da região dos Campos Elíseos ao longo do tempo. A proposta é fazer uma leitura transversal dessas tensões, desde a formação do bairro até a atualidade. O imóvel bombardeado e fotografado por Prugner há quase cem anos ficava, precisamente, onde hoje se concentra o “fluxo” da chamada Cracolândia.
Para Paulo Fehlauer, também coordenador e idealizador do Garapa, “a proposta é de exercitar um olhar ambíguo e dialético sobre essas explosões que, ao longo do tempo, ajudaram e ajudam a moldar não apenas a geografia do território, mas, também, as suas dinâmicas históricas e sociais. Um território cuja alcunha pejorativa — Cracolândia — disfarça a complexidade das relações e dos conflitos que se entranham no tempo e no espaço, confinando-as a uma leitura presumidamente unívoca”, afirma.
Localizado em área nobre do centro histórico de Ilhabela, o Centro Cultural da Vila, que abriga o Museu Waldemar Belisário, é um dos principais atrativos turísticos e culturais da cidade. Inaugurada em 2016, a instituição ocupa espaço onde existia a antiga Escola Municipal Gabriel Ribeiro dos Santos.
SOBRE O COLETIVO GARAPA
Paulo Fehlauer e Rodrigo Marcondes compõem o Coletivo Garapa. Ambos egressos do
jornalismo, desde 2008 desenvolvem uma trajetória criativa que propõe tensionar
as fronteiras entre o documentário e as artes visuais, realidade e ficção, além de
integrar linguagens e plataformas explorando o contato entre a fotografia, o vídeo, o
arquivo e a literatura. Juntos, desenvolvem um reconhecido trabalho de pesquisa autoral, buscando em eventos históricos e contemporâneos, na paisagem física e humana, os elementos para a construção de narrativas complexas e multifacetadas, resultando em um trabalho ao mesmo tempo artístico e político. Fehlauer é fotógrafo, escritor e artista multimídia. Doutorando em Teoria e História Literária na Unicamp, atuou como repórter fotográfico na Folha de S. Paulo e colabora com jornais e revistas do Brasil e exterior. Trabalhou no International Center of Photography e no National Geographic Photocamp, em Nova York. Fundador do Coletivo Garapa e da Casa da Cultura Digital, possui especialização em Formação de Escritores no Instituto Vera Cruz, em São Paulo. Marcondes, por sua vez, é jornalista, fotógrafo e artista multimídia. Mestre pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp. Colaborou com canais de comunicação brasileiros e do exterior, como Folha de S. Paulo, Editora Trip, MTV Brasil, além das produtoras Maria Farinha e Busca Vida Filmes. Viveu na Inglaterra e na Itália, onde trabalhou como fotógrafo freelance e aprofundou sua educação nas artes visuais. Em 2012, concluiu o Master of Documentary Photography, da Universidade AKV St. Joost, na Holanda.
(SERVIÇO)
SOB ATAQUE
Local: Centro Cultural da Vila / Museu Waldemar Belisário
Endereço: Rua da Padroeira, 140, Centro
Abertura: 3/6, a partir das 18h, com visita guiada
Horário de visitação: De segunda a quinta das 09hs às 20hs.
Sábados, domingos e feriados das 09hs às 21hs.
Período: 3 a 19 de junho de 2022